Soluções Urbanas é exemplo de promoção da saúde nas moradias

As intervenções cirúrgicas da assistência técnica habitacional na saúde das famílias que vivem em moradias de interesse social foram defendidas pela arquiteta e urbanista Mariana Estevão, durante o Seminário Nacional Campo Grande + 10. Fundadora da ONG Soluções Urbanas, do Rio de Janeiro (RJ), ela atua com a ideia de Arquiteto de Família, focada no diagnóstico e na solução das patologias presentes nas residências autoconstruídas de forma a qualificar as moradias e, por consequência, a saúde das famílias. “Precisamos difundir a consciência da relação entre saúde e ambiente e mostrar como ele pode trazer reflexos no dia a dia das famílias”. salientou. É o caso de instalações mal executadas que levam a vazamentos, contaminação, falta de iluminação e ventilação, cenário que contribui para várias doenças. Muitos dos problemas são ocasionados tanto por erros no momento da construção quanto por deficiências na conservação.

Dados do IBGE indicam que entre 50% e 60% da produção habitacional é informal. O levantamento ainda indica que 6% das famílias vivem em assentamentos irregulares com déficit qualitativo que impactam na segurança e na saúde. O trabalho da ONG vai na contramão dos investimentos oficiais, altamente focados apenas em novas construções. “As políticas direcionadas à produção de moradia hoje limitam-se à redução do déficit quantitativo”, criticou a especialista.

Durante o seminário em Campo Grande (MS), Mariana descreveu o trabalho realizado pela ONG no diagnóstico das deficiências das moradias diretamente com as famílias, o que envolve, além de arquitetos e urbanistas, engenheiros e assistentes sociais. Um dos estímulos para aderir ao projeto é a Feira de Trocas, implementada em comunidade no Rio de Janeiro. O modelo, pontua a arquiteta e urbanista, permite às famílias a troca de caixas de leite UHT pelo que a organização chama de “moeda social” que permite compra de material de construção. Para isso, a ONG tem parceria com a empresa Tetra Pak. O incentivo à participação está focado em famílias que já atuam com a assistência técnica do projeto. Os produtos ofertados geralmente são oriundos de doação e sobras de obras.

Um dos pontos importantes é agir com rapidez. Segundo Mariana, foi observado que quando o atendimento não é feito no momento do chamado, as famílias acabam realizando as benfeitorias sem acompanhamento técnico. Quando ele é feito, o arquiteto e urbanista define em conjunto com as famílias os pontos de patologia das residências e traça um plano de trabalho com ajuda de uma planta e de adesivos indicativos dos problemas a serem solucionados.

O presidente da FNA, Jeferson Salazar, pontuou a relevância do trabalho realizado e foi além. “As universidades estão na contramão. Temos que rever para quem estamos formando profissionais. Se é para a sociedade ou para manter o status quo. O ser humano não precisa do arquiteto e urbanista para resolver seus problemas de habitação. Qual a diferença? A diferença está em trabalhos como esse, quando qualificamos o espaço e damos soluções que melhoram a saúde e o bem- estar das pessoas”.

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