Mesmo com troca de governo, não existe vida fácil no sindicalismo

A entrada do presidente Lula no cargo da presidência da República é uma porta de entrada promissora que, entretanto, não dispensa a pressão e a ocupação nos espaços de reinvindicação do movimento sindical. Quem explica o cenário é o presidente da Central Única dos Trabalhadores do Distrito Federal (CUT-DF), Rodrigo Rodrigues, que destaca que “não existe vida fácil no sindicalismo. Temos enfrentado um desafio de plataformização do trabalho, criando uma base trabalhista precarizada e explorada, e uma desvalorização do serviço público, dificultando ainda mais o acesso plural da população aos seus direitos básicos”. A discussão, que faz parte da programação desta sexta-feira (19/05) do Conselho de Representantes da Federação Nacional dos Arquitetos e Urbanistas (FNA), procurou debater a conjuntura da política nacional do Brasil e também analisou o mercado dos arquitetos e urbanistas com a economista do Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (Dieese) Mariel Lopes.

Essa realidade precarizada também é visível no dia a dia da arquitetura. De acordo com Mariel, baseado em dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PnadC) e Relação Anual de Informações Sociais (RAIS) referentes ao ano passado, 56% dos arquitetos e urbanistas atuam por conta própria. O salário da categoria, que em 2012 era uma média de 8.630,00, caiu para 5.000,00 em 2022. “O setor expandiu nos últimos anos e a remuneração despencou. Mas mais do que uma alta de profissionais formados no mercado, esses dados são um reflexo da situação econômica do país”, ressalta. A diminuição dos concursos públicos e a maneira de consumo dos brasileiros também afetam diretamente o mercado de arquitetura. Rodrigues, inclusive relembra, que esse desmantelamento dos servidores foi projeto do último governo. “Precisamos retomar a ideia de que o setor público é um fomento para o Brasil. As políticas públicas e o trabalho dos servidores afetam todos nós. A pandemia da Covid-19 e o Sistema Único de Saúde estão aí para provar”.

As possíveis mudanças e o aumento das oportunidades de trabalho, conforme Mariel salienta, passam pela pressão sindical e dos movimentos sociais. “Agora é a hora, por exemplo, de ampliarmos a discussão da Reforma Tributária. Pressionar para levar a pauta do trabalhador, sem levar em consideração a opinião da patronal e a ameaça do desemprego, para mudarmos a realidade”. Projetos como o Microempreendedor Profissional (MEP), que precisa ainda prever um repasse dos profissionais liberais pelo direito à aposentadoria, discutir a tributação das cooperativas e as reformas necessárias para a melhoria da vida do trabalhador e da sociedade foram pautas elencadas que devem seguir sendo prioridade de pressão do movimento sindical. Rodrigues ainda inclui que, após o período de pandemia, é necessário “voltarmos aos encontros presenciais e pararmos de tentar construir no mundo virtual. A política perde a entonação em uma mensagem. Melhorias e conquistam precisam do trabalho coletivo e mobilizado”.

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