Estudo analisa o grafite como forma de apropriação da arquitetura

Na linguagem comum, o grafite é o resultado de pintar textos abstratos nas paredes de maneira livre, criativa e ilimitada, com fins de expressão e divulgação. Procura ser um atrativo visual de alto impacto e parte de um movimento urbano revolucionário e rebelde. Sua essência é mudar e evoluir. Este tipo de expressão está fortemente relacionada com a arquitetura, dando vida as cidades ao redor do mundo. Com essa justificativa, o site AchDaily apresentou um resumo do caso de estudo: “Grafites como forma de apropriação da Arquitetura na Unidade Vicinal Lorenzo Arenas de Concepción 2013″, desenvolvido pela arquiteta chilena Catalina Rey em cooperação com seu guia de tese, o arquiteto David Caralt.

O estudo faz uma avaliação, abordando a origem do grafite, análise, e a apropriação da arquitetura. Confira:

1: Grafite. Sobre sua origem

As bases do grafite iniciam quando o homem primitivo teve consciência do seu entorno e gerou a necessidade de plasmar sua realidade graficamente para deixar um registro dos seus pensamentos, costumes e vivência. Muitas vezes realizados com objetos acentuados, o homem deixou uma marca nos muros, um rastro da passagem efêmera da humanidade.

Foto: Catalina Rey

2: Grafite. Sobre sua análise

Os grafites representam mais do que uma simples pintura na parede; para Brassaï, correspondem a emancipações do mundo dos sonhos, uma verdadeira essência da realidade.O arquiteto e pintor Hundertwasser considerava a ação do grafite como algo tão natural que admitia sua existência como elemento construtivo da vida e da vivência.

Entretanto, na sociedade atual entendemos estas manifestações como uma arte marginal devido a sua condição de clandestinidade e anonimato; não é comum ver quem os realiza, mas eles aparecem todos os dias, estão ali e formam parte da paisagem urbana e da nossa cotidianidade.

Este “caráter marginal”, se relaciona com a apropriação dos espaços intersticiais e das fissuras da trama urbana, dos lugares vazios e esquecidos onde se concentra a memória das cidades. Desta forma, os grafites vinculam-se a um ambiente de protesto onde os cidadãos vêm na sua própria cidade o suporte mais imediato para expor suas frustrações frente a sociedade; os muros se convertem no espaço para manifestações políticas, reivindicativas, sociais ou simplesmente exclamações cotidianas.

Foto: Catalina Rey

3: Grafite. Sobre a apropriação da arquitetura

Entendendo o grafite como uma forma de pensar a cidade, que se expõe para ser vista e utiliza como suporte os muros urbanos, este tipo de representação reflete o sentir urbano. Para Epstein, os muros são espaços de expressão que carregam a história, ideologia e identidades das cidades, sendo uma maneira de se apropria concretamente do espaço público, de participar do diálogo social.

A simples presença do homem que frequenta um lugar continuamente cria a arquitetura e o espaço. Ao caminhar, o ser humano realiza um ato de pisar a terra, desnaturalizá-la, mudando sua essência. Daí surge a importância de “deixar uma marca” em que a essência do habitar consiste em “personificar”, em fazer os próprios espaços. E é neste ponto que os grafites ganham relevância, já que são uma manifestação deste sentimento de pertencimento; geram identidade e outorgam sentido dentro de um contexto urbano que nem sempre é próprio dos cidadãos.

Foto: Catalina Rey

4: Grafite. A Unidade Vicinal Lorenzo Arenas

O bairro Lorenzo Arenas foi desenhado no começo dos anos 40 pela Caixa de Habitação Popular para o Seguro Social, em plena propagação dos ideais estéticos do movimento moderno. É constituído como o início da tipologia de “unidade vicinal’ como moradia social em Concepción, onde os blocos em altura média conformam núcleos e pátios comuns que permitem o encontro comunitário.

Foto: Catalina Rey

Dentro da Unidade Lorenzo Arenas, existe certa uniformidade a respeito da localização espacial dos grafites já que na sua maioria se localizam nos parâmetros exteriores das edificações, expondo-se para o espaço público da Avenida 21 de Maio utilizando as fachadas menos importantes dentro da composição do bairro. Entretanto, estas são as mais importantes dentro da configuração urbana já que são as que estão voltadas para a rua mais movimentada.

Quanto a sua relação com a arquitetura, os grafites respeitam os limites físicos e de percepção que a arquitetura lhes entrega, em alguns casos apropriando-se de elementos como janelas para incorporá-las no grafite. Desta relação com a arquitetura nasce a necessidade de apropriar-se do lugar; os grafites são gerados por um impulso de necessitar mais espaço para transmitir a própria identidade em um lugar onde todos vejam, da necessidade de sentir uma “apropriação de algo público”, reconhecendo a edificação como seu suporte mais imediato e enriquecendo um espaço que não pertence a ninguém e ao mesmo tempo é de todos.

Foto: Catalina Rey
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