Discussão avalia perfil dos arquitetos e sua formação

Quais inutilidades são importantes para o ensino universitário? Vamos à universidade para reproduzir a elite ou para ostentar o anel de doutor? Quanto vale o que sabe um professor com 30 anos de experiência? O bombardeiro de questionamentos abriu o terceiro painel do Seminário ‘O Futuro da Profissão do Arquiteto e Urbanista’, realizado em Porto Alegre. Em uma manifestação contundente, o arquiteto e urbanista Bruno César Euphrásio de Mello, criticou a visão de lucro que rege as universidades e que acabam substituindo professores com anos de experiência por novatos para “enxugar a máquina”. “Há coisas que não são precificáveis.  O saber é a única coisa que pode desafiar a lógica do lucro”, pontuou, lembrando que a universidade precisar alicerçar-se em ensino, pesquisa e extensão, estabelecendo elo com a comunidade.

 

Para motivar as novas gerações, disse Mello, o professor precisa encantar, seduzir, mas de maneira horizontalizada, colocando-se ao lado dos estudantes. “O professor precisa ensinar na democracia e na cidadania. Quem aprende na e não para a democracia, não esquece jamais”, salientou ele, criticando o projeto Escola Sem Partido em tramitação no Congresso Nacional e que prevê limites para a formação política em sala de aula.

 

A manifestação foi reforçada pelo mediador da mesa, o vice-presidente da FNA, Cícero Alvarez, ao alertar para a falta de interesse da população por informação confiável e lamentar a situação política nacional alicerçada em uma política golpista. “As pessoas precisam buscar sabedoria. Hoje, as manchetes prevalecem sobre a busca do conhecimento. A gente não constrói um telhado sem fundações. Precisamos formar opiniões com base em conhecimento. Precisamos pensar”.

 

No encontro, o secretário geral da FNA, José Carlos Loureiro, falou sobre a realidade dos profissionais brasileiros e pontuou que os próprios arquitetos e urbanistas se desvalorizam. Além de não utilizarem as ferramentas existentes para cálculo de honorários, ele frisou que os arquitetos têm desprezado o atendimento a baixa renda, muitas vezes, explorando os próprios arquitetos. Na tentativa de resolver a questão sugeriu: usar a tabela de honorários, lutar pelo salário mínimo profissional e exigir o pagamento de valores equivalentes no setor público. “As faculdades devem começar a incentivar os arquitetos a construir e não a apenas projetar. Precisam formar o empreendedorismo”, disse. Ele acrescentou que os currículos deveriam incluir a formação nas áreas de regularização fundiária e habitação de interesse social. E ao finalizar destacou como o caminho para alcançar tudo isso o fortalecimento dos sindicatos.

 

O painel ainda contou com a manifestação da gerente executiva de Habitação da Caixa Econômica em Poro Alegre, Eleonora Mascia, que pontuou a importância de atuação em assistência técnica de forma mais ampla, não apenas na execução do projeto como forma de valorização dos profissionais.

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