Aproximando linguagens para contribuir na formação das cidades

Autor: Bruna Karpinski, Assessoria de Comunicação da FNA

 Há dois anos integrando a diretoria do Sindicato dos Arquitetos e Urbanistas no Rio Grande do Norte (Sinarq-RN), Flávia Costa de Assis faz parte da gestão que unificou esforços para regularizar a situação da entidade e pleitear cadeira nos conselhos municipais. “Agora as pessoas estão vindo até nós sabendo que existe um sindicato”, disse referindo-se à primeira homologação.

Entre as bandeiras da nova gestão do Sinarq-RN (2014/2017), está a luta pela preservação do Hotel Reis Magos por meio de campanha em parceria com o coletivo Rexiste Reis Magos, que ajudou a dar visibilidade ao sindicato. “Os vereadores começaram a chamar a gente para participar de audiências”, comemora o saldo positivo desta confluência de ideias.

Formada pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), atualmente Flávia é professora no curso de Arquitetura e Urbanismo do Centro Universitário FACEX, em Natal, com foco nas áreas de História da Arte, da Arquitetura e do Urbanismo e Projeto e Planejamento Urbano e Regional.

Indicada pelo Sinarq-RN, Flávia é membro titular do Colegiado Setorial de Arquitetura e Urbanismo do Conselho Nacional de Política Cultural (CNPC) do Ministério da Cultura para o biênio 2016/2017. “A pauta prioritária para essa gestão é a construção do nosso plano setorial, que ainda não temos”, destaca.

Flávia acrescenta que também existe a intenção de aproximar a arquitetura e urbanismo de outras linguagens, como por exemplo o patrimônio material, para integração das políticas públicas. “E também no sentido da auto afirmação da arquitetura e urbanismo como elemento cultural que compõe a formação de cidades e de indivíduos”, explica.

A posse do Colegiado Setorial de Arquitetura e Urbanismo do CNPC está agendada para os dias 25, 26 e 27 de abril, no teatro Sala Cecília Meireles, no Rio de Janeiro. Confira entrevista sobre quais os planos da arquiteta e urbanista.

1) Quais são suas metas dentro do Conselho Nacional De Política Cultural? 

A primeira coisa que tem que acontecer é o colegiado ser reconhecido. Nesse momento, a gente não tem um plano de atuação setorial. A finalidade de tudo isso é configurar políticas públicas para a arquitetura, no campo da cultura, da paisagem e do patrimônio. Tudo isso porque tem ligação com outros ramos. Então, a primeira demanda dessa gestão agora é construir esse plano setorial.

Estamos trabalhando na elaboração de uma carta de intenções para apresentar na cerimônia de posse dos colegiados setoriais. É uma espécie de manifesto falando justamente dessa necessidade de autoafirmação, de firmar a arquitetura como elemento cultural, um elemento formador da cultura do individuo, do cidadão, um elemento presente no nosso dia-a-dia.

2) Como que você vê a arquitetura dentro da cultura brasileira? 

Eu acredito muito no papel da arquitetura e urbanismo na formação das pessoas. O que eu acho é que nesse momento a gente tem que fazer isso ser reconhecido por outras pessoas que não os arquitetos.

3) Como acontece essa formação? Como você acha que o cidadão comum reconhece isso? 

Em alguns lugares isso é mais forte do que em outros. De você entender que a arquitetura é o desenho da sociedade, a história da sua cidade. A história humanística daquele espaço passa também pela história individual, passa pela formação cultural daquela sociedade. Existem regiões que têm esse apelo mais forte, principalmente regiões que têm um histórico mais antigo, por exemplo, Pernambuco, Minas. Eles têm um tipo de envolvimento com a terra. No Rio Grande do Norte, a gente tem menos.

Natal, mesmo tendo mais de 400 anos de existência, só veio a existir mesmo do século XX para cá, porque antes era um vilarejo. Foi fundada por decreto, porque precisavam ocupar aquele espaço do território, mas não houve uma confluência de pessoas. Não foram pessoas que se juntaram em um aldeamento espontâneo. Em alguns momentos, falta esse apego de dizer isso aqui é meu, a cidade é minha, isso conta a minha história.

4) Você acha que isso dificulta a preservação do patrimônio?

Sim, porque a gente não entende que aquilo faz parte do nosso dia-a-dia. Eu estou passando todos os dias nessa rua, mas eu não sei que essa rua conta a história da cidade. Eu passo todos os dias na frente desse prédio, mas eu não sei qual é a história que ele tem pra contar, qual a relevância disso, ou o apelo que isso tem na formação social. Tem os grandes ícones, como Morro do Careca, Araruama dos Dunas. Mas existem vários outros aspectos da cidade que estão contando nossa história também, o modo como nossas cidades são construídas, o jeito que faz o telhado. O jeito que se constrói no Nordeste é diferente do jeito que se constrói no Sul. Isso são aspectos culturais e a gente não entende isso assim. A gente simplesmente passa batido por essas coisas na maioria das vezes.

5) Como você projeta a Arquitetura e o Urbanismo no Rio Grande do Norte para os próximos anos?

Existe mobilização social razoável em Natal a nível de planejamento urbano, existe já uma história de envolvimento entre vários grupos sociais em questões, por exemplo, de revisão do plano diretor, destituição de áreas protegidas, ou áreas de interesse social.

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